domingo, 25 de maio de 2008

URBANUS, Infogravuras, 2008

clave leis pentagrama controle linhas horizontais ruas hastes crescimento imobiliário notas cabeças da capo início harmônicos condomínios enarmônicos conflitos sociais segunda menor sexo cromatismos crescimento clusters sonoros orgia notação contemporânea comunicação digital inexeqüível loucuras licenciosas ritmo tempo tempo vida ritardando botox notas janelas compasso receita de bolo métrica cabresto modulação evolução melodia felicidade contraponto barreiras timbre personalidade linhas suplementares superestruturas peça conc(s)erto para computador

BULA DAS INFOGRAVURAS



A música escrita pelo compositor, para ser percebida pelo ouvinte, necessita de um intermediário, ou melhor, de um intérprete. Logo uma partitura não é música. Então o que é? Um conjunto de elementos gráficos (linhas e pontos), que apresentam um ritmo visual. Mas nem tudo o que se “desenha” enquanto “música” é executável. Este trabalho é um exemplo disto. Partindo da formação e colocação aleatória de notas e valores estabelecer uma progressão numérica das notas com o propósito da não-execução obtendo um registro formal desta experiência e posterior execução deste conc(s)erto para computador, mostrando as limitações deste meio enquanto formador imagético e sonoro. Estabelecendo uma ponte entre a música, as artes visuais e a tecnologia, a contemplação visual e a percepção auditiva. As peças são fruto do experimento com o software Encore 32 pelo preenchimento dos espaços vazios. E a discussão das interfaces entre os sons (mal-executados) e esta evolução urbana e social, onde a poluição e a comunicação de massa alienam o indivíduo.

O trabalho apresentado é um conjunto de 4 infogravuras sobre papel cuchê A3, com imagens de partituras “pixelizadas” e um texto que servirá como “fio” para a interpretação. Simultaneamente a execução da trilha criada a partir do experimento.

LACUS PROFUNDITUS, performance, 2008


"A responsabilidade do artista consiste em aperfeiçoar seu trabalho
de modo a que ele possa se tornar atrativamente desinteressante."

John Cage



Há um distanciamento entre o espectador e as obras produzidas na contemporaneidade. Fruto da desreferencialização e despolitização da realidade em que o indivíduo está inserido enquanto espectador e artista, observadores desta arte que se vincula diretamente ao cotidiano, com seus significantes, significados, leituras e vivências. Não fruir a arte produzida e exposta é não perceber o meio em que se está submerso. Alienígena de si.

A atitude escarnecedora sobre esta arte (pós-moderna) pode revelar um indivíduo “insensível” e despreocupado, e gera nos artistas uma volta ao seu propósito primeiro na criação da “obra de arte” -suas intenções-, bem como os valores empregados e convicções sobre o que realmente está produzindo. Levando-o a reflexão.

O riso é revelador e questionador. Música intermitente de ritmo e melodia variável. Contagiante ou constrangedora. Aceptora de canais de significância, de crítica e de mero deleite sensorial.

A performance intitulada LACUS PROFUNDITUS (aprox. 7min.) tem o propósito de questionar e provocar a arte, o artista e o espectador, quanto aos seus meios e poéticas. Partindo do riso como elemento de reflexão.

sábado, 24 de maio de 2008

8 de Maio no CAMPUS - UFRN

(Fotos: Vicente Vitoriano)

8 de MAIO, dia do artista. Este ano, sob a iniciativa de Vicente Vitoriano, os alunos de Artes Visuais decidiram criar uma mostra no Centro de Convivência da UFRN. Sob temática livre.
O trabalho que decidi apresentar é fruto da pesquisa sobre arte de rua e seus suportes, especificamente os lambe-lambes que Segundo Rodrigo Bruno do coletivo Design STUFF (IN:http://designstuff.wordpress.com/2008/01/28/lambe-lambe/ Acesso em 24 mai. 08)é basicamente um poster de papel colado com cola, geralmente em muros e postes, que há séculos já é usado para a publicidade, divulgação e comunicação (quem nunca viu um lambe-lambe de algum ladrão sendo procurado em filmes de faroeste?), e já está no inconsciente coletivo. Aqui no Brasil, é comum os lambe-lambes para divulgação de shows (os clássicos posteres de tipografia com letras enormes e em duas cores), sendo hoje mais comum a divulgação de shows menores. Se aproveitando dessa técnica, alguns artistas nos EUA começaram a usar o lambe-lambe para intervir na cidade de forma artística."
Certo dia estava passando pelos acessos da Universidade quando vi um pequeno bloco (de lambes superpostos), arrancados da parede e pendurados. Não hesitei. Arranquei. Isso ficou por algum tempo encostado quando surgiu a idéia de molhar e retirar camada a camada. Neste mesmo período conheci alguns trabalhos de Matisse com a técnica do papier découpé e "criei" a técnica chamada papier collé (des)collé (re)collé com os lambe-lambes. No processo de construção do trabalho vi que visualmente a superposição de pedaços criava, visualmente, o efeito da propagação sonora, unindo os pontos da minha pesquisa, entre o musicalismo e a arte de rua. Barulho. Os olhos tentam ler. E a reprodução fonética das letras geram um som confuso e intenso. Mas era necessário criar um contraponto com todo esse barulho. Poluído. Silencioso. Muita informação. Nenhuma informação. A construção da dualidade maniqueísta, a necessidade do silêncio. O trabalho deveria ser colado sobre uma parede, mas para a instalação no Centro de Convivência, achei mais prudente colar sobre compensado e instalar pendurado na estrutura de concreto aparente. O Centro de Convivência, cinza devido a sua estrutura, ganhou temporariamente cor e som, em um espaço silencioso e pouco poluído.

Hoje é dia de Feira!

Diversdade

Série Vermelhos e Amarelos Lúgrubes
Vermelho-sangue e a palidez amarelo-cadavélica pontuam o quadro da feira. Alimento para carnívoros ou onívoros, com suas películas, suas formas e preparados.

1

2

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Série Rendas e Bordados


1

2

3

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Série Encantamentos da Feira
No meio, na Feira, uma fumaça cheirosa nos convida a contemplação de uma sacaria colorida e igualmente cheirosa. Quase tudo, de chifre a "levanta-defunto" e uma senhora sempre disposta a orientar os fregueses.

Cura para Todos os Males

Para Tapar o Sol

Sacaria 1

Sacaria 2

Sacaria 3

Sacaria 4

Icógnitas Terrosas


Esperando, 2008 (20x20x22cm)

Leitura dos trabalhos do Mestre Vitalino. Vitalino retratava o homem do campo e suas atividades de subsistência.Foi um dos importantes ceramistas da região do Alto do Moura, que trouxe a região, juntamente com o Mestre Manoel Galdino a discussão sobre os limites entre o objeto de arte e o artesanato. Este trabalho retrata a espera pelo "tempo" e a terra seca de regiões áridas.


Mater, 2008 (8x8x20cm)


Instabilidade, 2008 (frente) (15x4x8cm)

Instabilidade, 2008 (verso)


Mater Terra, 2008 (25x5x10cm)

Eu Vi o Sol Subindo Atrás da Serra, 2008 (25x5x15cm)

Trabalhar com cerâmica é sempre uma icógnita. Inicia-se com um projeto prévio do que se fazer mas não se tem controle total sobre a peça durante o processo de feitura. A plasticidade da argila trata de sempre lançar questões e "formas" a moldagem. As mãos quentes sempre insistem em secar mais rápido as peças e fazer trincas na superfície da peça. Por isso as placas, elas se erguem rapidamente e não é preciso muito contato com a massa (como na técnica dos rolinhos, por exemplo). Nestes trabalhos, há a tentativa da gravura sobre a massa cerâmica com a impressão de "paninhos de crochet". Há a ligação entre essa Mãe Terra (suas rochas) e a representação materna, com sua delicadeza e destreza manual, de onde veio a veia... Essas peças existem só virtualmente, as icógnitas são tantas que não é sabido se resistirão ao forno, ou se tem problemas na massa... Essas peças coloridas são pedaços de uma outra, que durante a coloração com engobe acabou por destruir-se.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Livro: Performance nas Artes Visuais - Regina Melin


Um artista, enquanto eterno estudante de arte, não, só, produz, ele é um eterno pesquisador como fonte de suas poéticas e experimentações, é necessário ver e ler (ir a exposições e estudar a história da arte) como fonte para a criação de sua poética pessoal e como forma de inserção consciente no meio. Dentro desse hiato criativo (normal! fonte de reflexão sobre o trabalho e sobre si), achei este livro e achei bem interessante. O livro de Regina Melin, Performance nas Artes Visuais (Jorge Zahar Editor), trata da diferenciação conceitual entre a performance, body art e metaperformance, além de tratar dos principais artistas que realizaram performances no Brasil e no Mundo. Além de discutir sobre os desdobramentos na pintura, escultura, fotografia, vídeo-arte, instalações, textos.

domingo, 18 de maio de 2008

Interativos(?) e Contemplativos

A Capitania das Artes, no ano de 2008, trouxe aos artistas três propostas temáticas: MEA-CULPA, LAMBE-LAMBE ou INTERATIVOS E NÃO-CONTEMPLATIVOS. Na reunião para apresentação das propostas tudo parecia já estar pronto e premeditado, isso com 10 dias para a abertura da mostra, a apresentação dos temas parece ter havido só para tentar que o processo fosse “democrático”. Até o projeto do cartaz dentro da temática pré-escolhida estava lá. A temática da exposição 8 de maio de 2008 “escolhida” foi INTERATIVOS E NÃO-CONTEMPLATIVOS.
Os curadores deste ano Célia Albuquerque e Plínio Sanderson ficaram instigados com a temática e reuniram novamente os artistas para a discussão da temática juntamente com o coordenador do Setor de Artes Visuais da Capitania Ricardo Veriano. Sanderson iniciou as discussões lançando o que viria a ser INTERATIVO, inicialmente, para o curador, remeteria a algo a ser mexido ou burilado, ou algo feito coletivamente (a várias mãos) ou ainda, algo que remetesse a uma mudança na realidade deste expectador, em um processo reflexivo conjurando significados. E posteriormente o que seria CONTEMPLATIVO, que seria atribuir valor por admiração, de deter a vista em um determinado tempo. Estes conceitos parecem tão permeáveis (tantos significados) que se chegou a conclusão de que a interação passa pela contemplação: ao contemplar uma tela e esta chama seus olhos a contemplação ela passa a ser contemplativa, algo que mudaria essa vida do espectador (será?). Chegou a se questionar se até o olhar não seria contemplar. No final, ao ser questionado se haveria veto sobre trabalhos que não se enquadrassem nas questões propostas, Ricardo Veriano disse que poderia “encaixar” trabalhos nesta mostra, uma vez que “o dia é do artista e não da obra do artista” (?).
O que é INTERATIVO? A simples procura em um dicionário (vide um Aurélio...) achamos que é o que há interação e “interação” é a ação que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas, ou duas ou mais pessoas, uma ação recíproca. CONTEMPLATIVO é algo dado a contemplação, que por sua vez é a aplicação demorada e absorta da vista e do espírito, meditação profunda. Logo os trabalhos apresentados deveriam ter essa via de mão dupla entre o espectador e o artista (ou seu trabalho), onde este espectador pudesse dentro dessa proposição (teríamos um artista propositor, como Hélio Oiticica e Lygia Clark fizeram) estaria livre a sua vontade e bel prazer dizer como esta obra seria apresentada até a interferência de um segundo, eliminando assim a possibilidade de contemplação (reduzindo o tempo de observação).
Propostas discutidas, hora do recebimento e montagem da mostra. Neste momento é que se observa se os artistas entenderam a proposta. Por mais que a o núcleo de artes visuais tente “desengessar”, “descalcificar” e abrir este “estado refratário”, observa-se que nada mudou nos trabalhos. Problema. “O exercício dos matéricos conceituais e físicos” (como cita Ricardo Veriano) não foram feitos. O que se notou foi que a exposição foi dividida em 3 partes nitidamente. Uma para desenho e pintura, outra para assemblages e uma principal para instalações (e performance, na abertura) além da exposição dos trabalhos de Thomé Filgueira. E em terra de artistas “modernistas tardios”,como classifica o crítico Vicente Vitoriano a produção artística local, só se pode esperar é uma mostra modernista temperada com pequenas pimentas “contemporâneas”. As datas não foram cumpridas se observava artistas entregando trabalhos tardiamente o que comprometeu a curadoria.
Nas ações da Capitania para o 8 de MAIO estava prevista também uma Oficina de Construção e Elementos da Intervenção Urbana e da Performance com Dácio Bicudo de São Paulo, uma ótima oportunidade para os artistas repensarem sua produção e dialogar com este artista que tem uma experiência interessante com intervenções urbanas. Mas o que se viu foi que não houve um plano de ação: o que fazer(?), quando fazer(?), como fazer(?). O que houve foi um atropelamento destas etapas. Não houve uma explanação teórica sobre o assunto, nem o plano de construção do elemento que comporia o final da oficina para ser apresentada na abertura da exposição. Houve problemas de logística que atrapalharam todo o processo e a falta de planejamento de como aconteceria tal intervenção.
Eis que chegado o grande dia da abertura da mostra. Dia de observar as performances e sua efemeridade instigante. A performance de Ivo Maia, Ovo e Dor, interativa por excelência (graças!) e não contemplativa durante este processo de criação coletiva, com o arremesso de ovos recheados de cor sobre suporte (tela) e essa interação entre artista, trabalho e expectador. A metaperformance (apresentada no Devorando o Fausto) do Grupo Marimbondo Caboco, Guerra Santa (à lá La Fura Del Baus), com suas beatas irritantes e a guerra entre as religiões (hindu, católica, evangélica...) teve um desfecho estranho: como Jesus redimiria toda essa guerra? Faltou um elemento sincrético para o desfecho mais plausível, mas conseguiu atingir o “interativo” onde o público participou, mas não deveriam pedir para que as pessoas interagissem, só sugerir. A body art de Cátia Machado, Óleo, que mexe visão e olfato, pelo cheiro forte do óleo queimado, corpo que se debate neste óleo suplicando por vida, chamando e expectador para interagir com este animal que agoniza em meio a poluição, “tomou o público pela mão”. O trabalho de Ilkes Rosemir onde dentro do seu desenho há a interferência de um desenho infantil que tenta reproduzir o traçado interferindo sutilmente sobre o trabalho final. Assim como o trabalho de Leandro Garcia e Mariana Zulianeli, Interatividade. Mas há um trabalho que quase passa despercebido pelo espectador, a instalação site-especific de Vinícius Dantas, onde se utiliza da stencil-art (impressões no chão) para propor o castigo que pode ser a contemplação, interagindo com os trabalhos expostos.
O que se vê nesta mostra é a falta de planejamento e de preparação que a Capitania ainda tem em suas propostas. Mas há algo de novo: a TENTATIVA de mudar. Mas essas tentativas devem vir com o planejamento adequado das ações empreendidas. É necessário se pensar com antecipação de pelo menos dois meses. No primeiro mês a escolha dos curadores e a primeira reunião com os artistas para que dentro das propostas apresentadas escolham a que interessa ao grupo, dentro disto que se estabeleceria uma série de encontros para a apresentação do tema, bem como linhas históricas recorrentes, como elemento de formação artística e criação destes “matéricos conceituais e físicos”, concordando com Célia Albuquerque que “sem pesquisa experimentação e ousadia, limitamos nossa criatividade”. Para tanto é importante que os curadores não sejam só práticos, mas teóricos do seu trabalho e do contexto em que está inserido, a fim de fomentar nestes artistas não a vontade de mudar, que é bastante problemática, mas de propor experimentações dentro dessas poéticas pessoais em ligação com a produção contemporânea, bem como a liberdade para exercer suas funções. Faltam ações de arte-educação, de acompanhamento monitorado, como elo entre o observador e os trabalhos, possibilitando assim um fio a interpretação, compreensão e fomento desta pesquisa e desta sensibilização que a arte propõe a este que se presta a espectador das artes.