terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Caminhos do Porto


Caminhos do Porto

Serigrafia e linha de croche sobre papel

60 x 200 cm (aproximadamente)

2008


Quais os caminhos que um imigrante pode percorrer? A cidade do Porto com seus mapas tentam nortear o visitante que aqui chega ao encontro de sua arquitetura e seu patrimônio artístico e cultural. Cada mapa parece tentar apresentar todos os valores historicamente construídos. História de resistência e lutas para além mar. O pardal, ave abundante no Brasil, tenta se nortear por estes caminhos e tenta encontrar refúgio em uma terra onde os habitantes detem parte de sua história e de seus laços de sangue. Criando assim uma história comum entre a sua terra e Portugal.

O trabalho proposto trata-se de serigrafia e linha de crochê sobre papel. O processo de produção gráfica serigráfica cria uma imagem plana a superfície do papel. Na tentativa de subverter a planaridade da serigrafia com a colagem de matéria confere a gravura um relevo sugerindo caminhos e além disso uma instalação. Os caminhos que nortearão o retorno a sua terra e a possibilidade de retorno a esta. Voar e deixar os fios que fará voltar a pousar sobre solo lusitano.



terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Impressões e Crítica

Jardim da Faculdade, Hoje (11h40m)

Jardim da Faculdade, Hoje (11h40m)

Jardim da Faculdade, Hoje (11h40m)

Jardim da Faculdade, Hoje (11h40m)

Última aula de Crítica de Arte: Professor Helder Gomes a receber trabalhos de uma aluna)

Professor a chamar um a um e falar sobre os aspectos do ensaio crítico desenvolvidos

De pé: Carolina; com a mão levantada: Leonor; e tentando não aparecer na foto: Marta.


Quinze dias para o final do semestre. Interessante como essa semana, na segunda, me bateu um clima de despedida. Olhar todo o cenário ao qual participo(ei) e me ver quando iniciei tudo isso. Lembrei de quando cheguei no primeiro dia de aula (Crítica de Arte) e vi a imensidão de pessoas a frente, na escadaria. Me vi pequeno e com medo. Talvez o vermelho tivesse predominado meu semblante. Lembro de não frequentar a cantina, sempre cheia de pessoas, com medo ou vergonha. E hoje me pergunto vergonha de quê? Construi laços de amizade e estabeleci um fio que me guiará daqui a frente. Daqui ao desconhecido, a um novo começo. Observar-me envergonhado e ser o "Leâozinho" da Cantina, ou o "Marciano". "Leãozinho": em uma festa dos alunos de Escultura, no Pavilhão de Escultura, todos estavamos a beber e o churrasco de "febras", em um dia frio, todos se viram para Fernanda (uma amiga carioca) e perguntam "tem lume", eu espantado com a sutileza falei "se fosse no Brasil pediriam fogo, tens fogo (?)", viraram para mim e com um gesto fizeram-me "tigrão". Festas animadas. Por aqui, bebe-se na Faculdade. Cerveja, vodca... e isso é encarado de forma natural. O frio pede... "MARCIANO": Leonor ao se espantar com meu sobrenome tratou logo de me apelidar, e eu a ela de "Lagartixa" uma vez que ela mora em Paredes (hunrum! bom trocadilho). No momento experimento uma certa liberdade, todos os trabalhos já estão feitos e na próxima semana apresento o de Obra Gráfica no Museu da Universidade juntamente com alguns alunos da disciplinas. Sinto-me mais calmo e com uma inquietante certeza de que hei de deixar muito por esse solo. Hei de sentir saudade... semelhante a quando vim para cá. De coisas inconclusas do sentimento de falta. Saudade. Volto a fumar, coisa que fiz muito antes de vir. Artistas não servem para viver muito, eu sei(!), e tenho não me importado muito com o tempo. Tenho-o desperdiçado, tem escorrido pelos dedos e eu a me ver, a recordar.
Depois de uma sucessão de caminhos equivocados na disciplina de Crítica de Arte, finalmente um "A" e a certeza de que não sairei daqui com mais de dezesete valores (nota do melhor aluno da disciplina que fez um trabalho de 50 páginas, desconfio...), mas o que aprendi por cá me norteará em tudo o que fizer...
Ao sair da sala de aula, me deparo com coisas que nunca havia "avistado" antes: uma chuva de granizo. Pedras redondas de gelo a tornar a paisagem branca, parece sal... Mas que rápido dissolve-se. Céu cinza entrecortado por gotas de chuva e pedras brancas. Sentirei falta de tudo isso.
Voltarei ao meu lugar, minha terra e a minha Universidade e sentirei falta de tudo isso...
A saudade me bate com uma dualidade espacial e temporal, sinto falta dos que deixei e irei de sentir falta dos que estão por cá.
Não traço mais planos, deixo o desenrolar do fio me guiar...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Ensaio Crítico produzido na disciplina de Crítica de Arte na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

Arthur Bispo do Rosario
Manto da Apresentação
Tecido e fios. 118. 5 x 141 x 20 cm.


Arthur Bispo do Rosario

Manto da Apresentação
Tecido e fios. 118. 5 x 141 x 20 cm.


Caetano Veloso vestindo Parangolé de Hélio Oiticica







Aspectos da Exposição


A PARTIR DA PRIMAVERA NOCTURNA
de Claudia Bakker, Galeria Graça Brandão, Porto, Portugal
(20.09.2008-31.10.2008)


Brasil. Anos 60 (1960). A hegemonia do capital das multinacionais, partindo da internacionalização, deu origem a uma nova etapa do Capitalismo. As medidas adotadas por João Gulart com a finalidade de atenuar o grave problema da desigualdade social e as pressões políticas que vinha sofrendo dos movimentos de esquerda, fez com que as camadas sociais dominantes (elites dominantes do capital nacional: classe média e alta), percebessem os sintomas que poderiam romper com a manipulação das massas. Aliadas ao governo americano, com a participação do Congresso e do Exército instauram no dia 31 de março de 1964 a Ditadura Militar. Imposta por Atos Constitucionais, fundamentadas por leis e decretos militares, estabelendo um período de vinte anos de repressão às manifestações culturais, sindicais e anulação de direitos adquiridos em acordos conseguidos por movimentos sociais.
É neste contexto político que surge o principal movimento artístico pós-modernista brasileiro caracterizado pelo protesto político e social: a Tropicália. Um movimento que se inicia na música por Gilberto Gil, Caetano Veloso, Nara Leão, Gal Costa, Tom Zé, da banda Mutantes e Torquato Neto, dentre outros. Movimento este que procurava universalizar a linguagem da Música Popular Brasileira, incorporando elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica. Unindo o popular, o pop e o experimentalismo estético. Composições de caráter crítico que compunham o quadro complexo em que o Brasil estava imergido.
O Movimento Tropicalista teve seu campo expandido da música às artes plásticas compartilhando de estéticas e conceituações ligadas diretamente aos percausos políticos que o Brasil estava a enfrentar. Hélio Oiticica ao utilizar materiais efêmeros (madeira, carvão, terra crua, tecido) denunciava a democracia “faltante”, agindo como um artista propositor: o artista apresenta as ferramentas plasticamente construídas e o espectador é o ator sobre este trabalho (obra). Democratizando as obras e o acesso do público ao espaço de exposições como metáfora a supressão das liberdades individuais de expressão.
Desenvolve-se após este período uma produção embasada na desconstrução dos elementos primeiros da arte (suporte e material) partindo para uma arte conceitual ligada e o “experimentalismo” nas artes visuais. Claudia Bakker - artista carioca, atuante no eixo Rio-São Paulo, que realiza desde 1994 instalações e performances, com o registro fotográfico, que novamente são retrabalhados e resignificados em novos suportes - ao intervir ora sobre o espaço, ora sobre o suporte, com materiais efêmeros (luzes, maças, tecidos e cordas etc), tende a retomar estes experimentos com o efêmero.
A exposição “A Partir a Primavera Nocturna” é a retomada das experiências estéticas decorridas da exposição “Primavera Nocturna” na Fundação Eva Klabin, Rio de Janeiro, no ano de 2007, onde interviu sobre uma sala de jantar com cordas e documentou em uma série de fotografias, expostas posteriormente. Nesta exposição apresentada no Porto, Portugal, retoma o desenho abstrato a sua produção artística. Mas com a significante influência cromática presente em sua exposição anterior, assim como os tropicalistas que utilizavam luz e cor como elemento simbólico e significativo nas obras.
Ao se penetrar o “cubo branco” da Galeria Graça Brandão o expectador se depara com o silêncio-branco da galeria entrecortado com sons-vermelhos. A calma-limpa-branca maculada por desenhos. Muito mais silêncio, do que sons. Poucos trabalhos apresentados, seis . A primeira vista o espectador observa apenas três trabalhos, dois a recepcionar o espectador (“É Primavera e a Espuma do Mar Brilha à Noite” 164,5x134,5cm, “Na primavera Nocturna o Céu é Rosa ao Entardecer” 164,5x134,5cm, ), um à esquerda e outro a direita, e um ao fundo ( “O Dragão Vermelho e as Algas Flutuantes”, 164,5x134,5 cm) . Mas o caminho da exposição nos leva a observação da parte central da exposição, ritmicamente constante com a série fotográfica “Fragmentos da Primavera Noturna” (8 fotografias de 11,5x10cm), que liga a presente exposição a anteriormente apresentada, em 2007. Mas isso ainda deixa um grande espaço branco para o entendimento do espectador, que logo é iluminado pelo texto da exposição, onde a artista lança os fios ao expectador para que possa tecer sua história e suas interpretações sobre as experiências estéticas apresentadas. O texto da exposição serve como “fio condutor” ao expectador que pode sentir-se na corda bamba entre continuar a observar o trabalho e ir embora.
Há no trabalho de Bakker uma inquietação e uma “regressão” ao passado, as questões da infância, a linha vermelha que se estende sobre o tecido branco, percorrem o espaço limpo e tentam traçar caminhos, emaranhados no tempo e no espaço, ora revisitando-os ora traçando novos rumos (construções lineares mais “limpas”).
Há na exposição um caminho que ora pode tentar ser conduzido pelo texto e ora pela série de fotografias da exposição realizada no Brasil, a ocorrência da redução de escala, se comparado o trabalho intervencionista, sugere uma “maquetização” com a fluência e dispersão de mais cordas pelo espaço.
Os trabalhos expostos recorrem ao gesto, algo presente nos trabalhos expressionistas abstratos, como os trabalhos de Pollock, mas o rítmo é constante com linha melódica única. Nota-se o movimento gerado pelo desenrolar e re-enrolar o novelo e a linha. Na tentativa de tecer. De tercer sobre o tecido algo biográfico. A posterior “colocação” sobre o tecido branco. Criação de pontos confusos de grande emaranhado, nós, desenhos livres, ora harmônicos ora desconexos na sinfonia do quadro, criando composições ora equilibradas ora dissonantes. E a propagação da cor-som-energia pelo espaço expositivo. Os trabalhos estão enclausurados sob moldura e vidro. Que impedem que as correntes de ar gerem na planaridade do tecido uma reverberação, o movimento livre, a ondulação do próprio suporte unindo-se a emissão de luz vermelha, que poderia gerar ao trabalho as interferências construtivas e destrutivas sobre o desenho.
“A imagem, entendida como forma de apropriação do mundo, fica a oscilar entre a sua apresentação e a sua modificação. Com efeito, a imagem do mundo pode ser tanto a representação da realidade como a constituição verbal que permite mediar a figura do mundo (p.15)” Fernando Guimarães, em A Obra de Arte e o seu Mundo (Quasi Edições), cita a abstração na produção contemporânea delimitando um caractér subjetivo e claramente visto nos trabalhos apresentados na exposição. Os títulos dos trabalhos remetem a uma contemplação ora “com os olhos de ver” e tentar “achar” algo pictórico, ora em tentar traçar um percurso conceitual que o ligue a experiência proposta pela artista, que além de traçar uma conexão com o trabalho de Hélio Oiticica ao utilizar do “cromatismo vermelho” em seus trabalhos se liga ao trabalho de Arthur Bispo do Rosário (1909-1989), artista sergipano, “esquizofrênico-paranóico” que parmaneceu por cinquenta anos internados em um manicômio em Jacarépagua, Rio de Janeiro, que produzia objetos com materiais oriundos do lixo e de sucata que, após serem descobertos, foram classificados como arte vanguardista e relacionados ao trabalho de Marcel Duchamp, mas o seu trabalho mais conhecido é o “Manto da Apresentação”, que seria utilizado no Dia Juízo Final e marcaria a passagem de Deus na Terra, além de manipular signos com a construção de discurso fragmenta a comunicação em códigos privados, criando assim a abstração ao espectador, mas significante ao nível da experiência pessoal do artista.
Os trabalhos apresentados em “A Partir da Primavera Nocturna” se interligariam a uma produção surrealista se não fosse o carácter conceitual e dialético, que também é evocado no trabalho de Bispo do Rosário: o que é artesanal (?), qual o “limite” entre o objeto de arte e o artesanato (?) e para elém disso qual o limite entre o real e a abstração (?). Os três artistas partindo de algo manualmente feito (artesanal) e consceitualmente construído (“obra de arte”, na contemporaneidade) quebram esta barreira. Bakker propõe isto em um período onde a arte é marcadamente influenciada pelo fluxo veloz do byte, com a manipulação e criação virtual. O retorno ao artesanal é, se não, um suspiro de liberdade individual artística a “evolução” desenfreada e aniquiladora que a tecnologia parece impor a arte e a vida, um retorno, um pouco calmo sobre o colo da avó que trama em suas mãos sua memória e a sua vida. Há maternalismo. Na primavera as flores reaparecem sobre os campos demarcando um período de fertilidade e de multiplicação, o vermelho oriental-sangue marca o período de início e fim, a felicidade floral e o término em sangue.
Os trabalhos apresentados nesta exposição estão conectados com a produção contemporânea brasileira dos anos 60 e 70. Não é uma exposição de fácil percepção para o expectador, que ao percorrer as galerias comerciais da Miguel Bombarda, no período, pode achar “só mais uma”, não valorando, primeiro pelo desconhecimento cultural, dos aspectos históricos e sociais ao qual as obras surgem, se quiser “fruir” o trabalho apresentado e tentar conectar-se interpretativamente a autora. É uma exposição para ser vista com calma e paciência para se tentar criar um fio entre os trabalhos, e para tornar significativa a experiência de contemplação e construção própria de significados, uma vez que a artista apresenta uma “obra aberta”. Olhar e tentar perceber em si onde os fios o tocam e onde tecem significados com o apresentado. Remeter a infância colorida e as experiências táteis. Brincar com o fio da vida que é vermelho.